Sobre o MIP

Sobre o MIP

Surgida em meados do século XX visando uma agricultura menos dependente de agrotóxicos, o Manejo Integrado de Pragas (MIP), apresenta como filosofia o uso harmonioso dos métodos de controle respeitando princípios ecológicos, econômicos e sociais, buscando interferir o mínimo possível no agroecossistema. Essa filosofia surgiu como resposta da comunidade científica aos problemas decorrentes do uso indiscriminado de agrotóxicos (como o DDT, por exemplo) como a resistência de pragas a diversos pesticidas, o aparecimento de novas pragas (consideradas secundárias), eliminação da fauna benéfica, problemas ambientais e intoxicação de animais e do próprio homem.

Em um primeiro momento o controle químico foi integrado ao controle biológico, posteriormente outros métodos de controle foram se desenvolvendo e incorporados ao manejo com destaque para a resistência de plantas a insetos, métodos mecânicos e culturais, controle por comportamento, dentre outros. Pode-se dizer que assim nasceu uma filosofia moderna de manejar agroecossistemas. O desenvolvimento e implantação de tal filosofia, na prática, requerem conhecimentos aprofundados sobre o ecossistema como um todo, que possibilitem um amplo planejamento, e, principalmente, que subsidiem a tomada de decisão pela adoção ou não de estratégias de controle e a escolha correta do sistema de redução populacional.

Os fundamentos do MIP baseiam-se em quatro elementos principais: na exploração do controle natural, dos níveis de tolerância das plantas aos danos causados pelas pragas, no monitoramento das populações (pragas e inimigos naturais) para tomadas de decisão e na biologia e ecologia da cultura e de suas pragas. É uma tecnologia que consiste, basicamente, de inspeções regulares à lavoura, verificando se o nível de ataque, com base na injúria, número e tamanho dos insetos-pragas, levando em consideração o estádio de desenvolvimento da cultura (fenologia). Essas informações são obtidas em inspeções regulares na lavoura para esse fim, buscando propiciar o máximo possível de mortalidade natural no agroecossistema ocasionada por fatores abióticos (precipitação, umidade e temperatura, etc.) e bióticos através dos agentes de controle biológico (predadores, parasitóides e entomopatógenos).

Dessa forma, o objetivo no manejo integrado não é o de eliminar os insetos-pragas, mas reduzir sua população de modo a permitir que seus agentes de controle biológico permaneçam na plantação agindo sobre suas presas e hospedeiros, o que favorece a volta do equilíbrio natural desfeito pela adoção de um monocultivo associado ao uso intensivo de agrotóxicos. Esse equilíbrio natural desfeito pode ser amenizado utilizando-se produtos menos tóxicos, seletivos aos inimigos naturais além da utilização de outras táticas de controle.

Como já citado, o monitoramento é o primeiro passo para se praticar o MIP. Sem monitorar a densidade populacional da praga no campo não há como se aplicar os princípios do manejo integrado. Assim, recomenda-se iniciar o monitoramento mesmo antes de se iniciar o plantio. A frequência e o método de amostragem dependem da fase de desenvolvimento da cultura e do nível de precisão que se pretende conduzir o programa de manejo.

Outro ponto importantíssimo para o MIP é determinar o nível de dano econômico (NDE), que se constituem em uma importante ferramenta que, juntamente como a forma correta de amostragens, são os grandes gargalos para que o MIP possa ser implementado. A tomada de decisão é efetuada através da análise dos aspectos econômicos da cultura e da relação custo/benefício do controle de pragas. Para tal determinação, leva-se em consideração o NDE que corresponde a densidade populacional da praga que causa prejuízos à cultura iguais ao custo da adoção de medidas de controle, ou seja, a menor densidade populacional capaz de causar perdas econômicas. No entanto em condições de campo adota-se o nível de controle (NC) que é a densidade populacional em que medidas de controle devem ser adotadas para impedir que a população atinja o NDE, pois é necessário um determinado período para que as medidas de controle se tornem efetivas para regulação da praga alvo.

O MIP pode ser adotado para todos os tipos de culturas sejam elas anuais, semi-perenes, hortaliças, frutíferas ou na silvicultura. Para isso estudos básicos devem ser feitos para se implementar o programa, levando em consideração o agroecossistema que se está inserido, com destaque para: o reconhecimento das pragas mais importantes (pragas-chaves), identificação taxonômica, o conhecimento de sua biologia, hábitos, hospedeiros, inimigos naturais etc., estudo de fatores climáticos que afetam a dinâmica populacional da praga e seus inimigos naturais, determinação dos níveis de dano econômico e de controle, considerar a fenologia da planta, prejuízos da praga, custo de controle e preço da produção, avaliação populacional (amostragem) e avaliação dos métodos mais adequados para incorporar num programa de manejo.

A adoção do manejo não é fácil, dentre os principais problemas encontrados para a adoção do MIP pelo agricultor destaca-se a ineficiência na transferência da tecnologia e adoção da mesma. Exemplo disso é a cultura de aplicações de agrotóxicos por calendário, ou seja, aplicações sistemáticas de produtos químicos em culturas de importância agrícola de forma pré-estabelecida sem a preocupação de saber se a praga visada tinha atingido um nível que pudesse causar prejuízos à cultura. Muitas vezes essa aplicação preestabelecida é feita mesmo sem a praga estar presente na cultura. Dessa forma, é preciso levar em consideração a presença da praga na lavoura e se essa está em níveis populacionais que justifiquem a utilização do controle químico como medida de controle. Para evitar esses problemas, o monitoramento constante da lavoura se faz necessário, bem como a adoção de outras estratégias de controle que não só o controle químico, e se fazê-lo utilizar produtos seletivos menos agressivos ao ambiente e que preservem os agentes de controle biológico, além de rotacionar os modos de ação utilizados.

No Brasil, como no mundo, a pesquisa já tem informações suficientes para se implementar programas de MIP para várias culturas de importância econômica, como soja, milho, algodão, cana, citros, dentre outras frutíferas, com resultados promissores implicando na redução do número de aplicações de agrotóxicos, refletindo em economia para o agricultor e minimização de efeitos adversos ao meio ambiente. De modo geral, nos últimos anos, a adoção de práticas mais racionais para a produção agrícola vem aumentando e práticas associadas ao manejo integrado vêm sendo utilizada para diversas culturas. Está estratégia de manejo é possível, mas quando se pensa no contexto, na associação de métodos de controle e das várias áreas afins (entomologia, fitopatologia, matologia, genética, estatística, dentre outras).

Por: Anderson Gonçalves da Silva

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Histórico do MIP
Implementação do manejo integrado de Pragas
Monitoramento de Pragas
Métodos de Controle
Resistência de Planta a Insetos
Controle Biológico
Com predadores e parasitoides
Controle Microbiano
Controle Mecânico
Controle Físico
Controle Cultural
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Uso de Produtos Naturais no Controle de Pragas
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